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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Espera dolorosa

 
Há três dias, Pernambuco aguarda, silencioso e choroso, os restos mortais do ex-governador Eduardo Campos (PSB) para prestar-lhe as últimas homenagens. Jornalistas de todo o País de plantão em frente à casa da viúva Renata Campos buscam a notícia que todos esperam: a liberação dos corpos pelo ML de São Paulo.
Mas não foi feita ainda a conclusão da perícia e as notícias quanto a esse desfecho são lentas e incertas, simplesmente porque o Corpo de Bombeiros, deslocado ao local desde o momento em que se confirmou a tragédia, não encontrou quase nada dos sete corpos, a não ser pequenos fragmentos de carne humana.
Minúsculos pedaços, em áreas já bem distantes do local em que foram encontrados os destroços da aeronave. Dentista de Eduardo Campos, Fernando Cavalcanti foi a São Paulo com a missão de identificar a arcada dentária do ex-governador, mas voltou ontem de madrugada chocado e abalado.
A arcada não foi encontrada e no contato com os peritos viu apenas pequeninos pedaços do que restaram dos corpos, achados, segundo ele, em 15 paredes de casas ao redor do local do acidente. “São tão minúsculos que para se montar seria necessário fazer um xadrez”, disse Cavalcanti.
A razão de tamanha demora reside ai. Os bombeiros, por mais esforços que tenham feito, não conseguiram encontrar pedaços dos corpos, mas miniaturas de carnes humanas. Como estavam a bordo sete pessoas, parece humanamente impossível acelerar a identificação do ex-governador, dos seus quatro assessores e dos dois tripulantes.
Identificação esta pelo DNA, processo que naturalmente já é mais lento, imagine com restos mortais que são, na verdade, miniaturas! Porta-voz da família, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, teve que voltar, ontem, para São Paulo para se inteirar dos trabalhos de perícia com o próprio comando do IML e mais do que isso com o governador paulista Geraldo Alckmin.
Agora, é torcer para que possa encontrar um quadro já definido, mas pelo que deixou a entender, na coletiva, há pouco, em frente à casa da família Campos, não é certo o traslado para amanhã dos restos mortais nem tampouco o sepultamento para o próximo domingo.
Tudo isso prorroga o sofrimento da família, de Renata e seus filhos, da mãe Ana Arraes, do irmão Antônio Campos, dos tios, que estão todos reunidos para confortar a viúva, enfim, leva todos a um sofrimento que parece sem fim.
E todo sofrimento é dramático e doloroso. Mas temos que encarar tudo isso com muita força e coragem, porque se trata de uma verdade cristalina. E toda verdade assim é dolorosa, porque nela mora o silêncio que existe em volta das palavras.
Para encarar tudo isso, absorver a compreensão deste momento, é preciso ter muita sensibilidade e saber prestar atenção. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua, toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido! Mas não precisa ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Por isso que Pernambuco está tão silencioso, a espera de notícias da chegada dos restos mais do seu mais ilustre filho.

Fonte: http://www.blogdomagno.com.br/index.php

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