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terça-feira, 7 de julho de 2015

"Garanhuns, uma cidade de artistas". Confira a nova crônica de Luzilá Gonçalves, homenageada do FIG 2015


Luzilá Gonçalves

Minha mãe dizia isso: que poucas cidades do interior possuíam, naquele tempo, uma vida cultural tão intensa. Primeiro era o piano, e havia quem tocasse e quem cantasse.  De dia ou nas noites de inverno, quando as ruas ficavam meio desertas, sempre um piano enchia o ar de sons. Uma voz de mulher indagava, através de Carlos Gomes: Bem longe, de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento? E colocava dúvidas: quem sabe se és constante?

No Colégio Quinze, comemorações cívicas eram ocasião para pequenas apresentações. As meninas tocavam Pour Elise e os estudantes cantavam o traduzido Canto de Saudade e Recordação, voz do pensamento, do meu coração. Minha mãe mesmo, tinha aprendido com sua amiga americana, Nina, filha de seu Thompson ou de mister Neville, não sei, a entoar Listen to the Mocking Bird, uma canção triste que falava da sweet Hally, sobre cujo túmulo cantava o sabiá.

Mas o grande trunfo de Garanhuns, durante muito tempo, foram as bandas de música. Houve, em 1914, a Banda 2 de  Março, que durou dois anos. Em 1918, um bando de músicos entusiastas fundou a Banda Musical Independente, de que faziam parte, entre outros, Elesbão de Araujo e Alfredo Leite Cavalcanti. Em 1925, o prefeito Euclides Dourado conseguiu recuperar instrumentos e algum membro da 2 de Março criou a Banda Municipal. Parece que foi dessa banda que meu pai tentou fazer parte. Aprendeu as notas, começou a ler a partitura e aprendeu a tirar uns sons de não sei que instrumento. Porém, logo no primeiro ensaio, aconteceu: aluno aplicado e louco por música, tomou o instrumento, começou a ler as notas. Contente e se achando ótimo tocou, tocou. E de repente todos pararam: haviam terminado a execução e meu pai ainda estava no meio da partitura. E minha mãe contava, rindo: foi assim que Garanhuns perdeu um grande músico.

Luzilá Gonçalves

Fonte: http://www.vecgaranhuns.com/

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